Este é o sonho de gestores de marketing e o pesadelo de redatores: a empresa assina uma ferramenta capaz de redigir em poucos minutos um artigo original e otimizado para SEO sobre qualquer tema. Tudo feito com inteligência artificial. Sim, já existem ferramentas no mercado que fazem isso. Testei algumas delas.
Para os redatores, a boa notícia é que essas ferramentas ainda não têm lá tanta qualidade. Já para os gestores, a boa notícia é que isso não vai demorar para acontecer.
Em setembro de 2020, o jornal britânico The Guardian fez um teste que repercutiu bastante. Publicou um artigo inteiramente escrito por robôs. Deu certo: o texto parecia realmente ter sido criado por um ser humano. O título — este provavelmente criado por alguém de carne e osso — foi perspicaz: “Um robô escreveu este artigo inteiro. Está com medo, humano?”.
E aí, humano, está com medo? Bem, eu confesso que não. Estou mais curioso para ver aonde vai chegar essa disputa meio Matrix do que amedrontado.
Li um texto no The Next Web promovendo uma ferramenta paga chamada The Rytr. É um texto patrocinado — portanto, com caráter mais publicitário —, mas ainda assim a promessa é tentadora:
“O Rytr AI Writing Tool pode ajudar qualquer redator a ser mais rápido, gerando um texto trabalhado em inteligência artificial para praticamente qualquer uso em questão de segundos.”
Decidi testar o Rytr AI Writing e o resultado foi um texto de poucas linhas, genérico, que não cita fontes e não se aprofunda no tópico proposto. Do ponto de vista de content marketing, não tem valor.
Mais testes
Testei outras ferramentas, como Sass Book AI Writer, Writer, Contentyze e Write Sonic. Nenhuma por enquanto está perto de substituir um redator humano. Algumas ainda têm problemas sérios de confiabilidade. Trouxeram erros grosseiros de informação quando, por exemplo, pedi que fosse gerado um texto artificial sobre Ayrton Senna.
A Sass Book AI Writer afirmou que o piloto brasileiro morreu em 2010 (foi em 1994) e a Contenyze, que ele era português. Nenhuma das duas construiu um parágrafo com as informações básicas de quem foi Senna, o que fez de mais importante e coisas que qualquer redator principiante faria em um ou dois parágrafos.
Ainda assim, as ferramentas parecem se esforçar para melhorar a tecnologia que têm por trás. Talvez por isso algumas já ofereçam funcionalidades interessantes para a geração de textos para redes sociais, que são mais curtos.
Por se tratar de start-ups, que normalmente melhoram o produto com muita velocidade, pode ser que eu precise fazer um novo teste dentro de pouco tempo. E aí será o caso de atualizar este relato. Porque é aquilo: não subestime a velocidade com que uma ferramenta amadurece nesta era digital, especialmente no casamento entre tecnologia e marketing (o chamado martech).
A melhor experiência
Quem parece mais perto de alcançar o ponto de criar blog posts artificialmente é a AI Writer. Em 2 minutos, ela produz textos de até 1.000 palavras — e com mais de 80% de originalidade.
Entretanto, ainda não é um texto pronto para ir ao ar em um site que preze pela qualidade. Faltam aqueles velhos três Cs que aprendemos nas aulas de redação na escola: coesão, coerência e concisão (lembra?). O texto é sempre um emaranhado de informações sem uma sequência muito lógica. Demanda bastante edição.
Por outro lado, as fontes consultadas pelos robôs da AI Writer transmitem confiança. São posts de sites com credibilidade. E os textos não são copiados. As ideias são extraídas e reescritas. Muitas vezes, informações de dois sites diferentes são mescladas num só parágrafo.
Isso também pode ser apenas uma questão de tempo para se resolver. Uma das propriedades da disciplina chamada Inteligência Artificial Estreita (Narrow IA, do inglês) é que o sistema aprende e se desenvolver a partir da instrução de seres humanos. Partindo dessa premissa, o robô-redator pode aprender a ser mais coeso, coerente e conciso. Basta ser orientado a isso.
A título de curiosidade, a Inteligência Artificial Estreita é diferente da Inteligência Artificial Geral, que é aquela em que a máquina é capaz de aprender por conta própria.
Cuidado, humano
Por enquanto, os redatores humanos levam vantagem sobre os robôs pela qualidade do material final que entregam quando se trata de textos mais estruturados — como este post, por exemplo. Os textos gerados artificialmente pelas plataformas não chegaram ao mesmo ponto.
Mas o jogo pode virar. No teste do AI Writer, o robô já leva pelo menos duas vantagens sobre o escritor humano:
- Ele consulta boas fontes. Diferentemente do achismo de muitos humanos, suas informações são sempre bem embasadas.
- Ao contrário da maioria dos humanos, o robô quase não comete erros gramaticais.
Além disso, a tecnologia nesse campo está em evolução. Até mesmo sistemas de atendimento online a cliente já é suficientemente desenvolvida para responder artificialmente por chat e até por email. Portanto, redatores, cuidado. Estudar gramática e aguçar a curiosidade podem ser boas formas de combater a competição artificial que tende a pintar num futuro não tão distante.∞