Recentemente, a Tracto participou de dois eventos envolvendo conteúdo, mercado e novas tecnologias. Em setembro, apresentei ideias sobre o termo “conteúdo inteligente” durante o Social Media Week São Paulo. Na última semana, foi a vez do Cassio Politi conversar sobre mensuração de resultados durante o RD Summit, em Florianópolis.
Encontros como estes revelam-se boas oportunidade para conversar sobre o que se ouve e aprende em tempo real, valendo-se do ambiente que melhor consegue articular estes diálogos ágeis: o Twitter e suas hashtags.
Ou, ao menos, costumava ser.
Durante minha palestra, a busca por #smwsp revelava, em linhas gerais, mensagens para marcar presença (“estou aqui no evento”, “assistindo à palestra de fulano”), elogios ao evento, entre outras mensagens de autopromoção.
Poucas eram as mensagens destacando frases ou conceitos que ouviram. Em número ainda menor, pessoas que entraram na conversa para acrescentar ou discordar. Comportamento que, segundo Cassio, também era nítido a partir de uma busca por #rdsummit no Twitter semana passada.
Todos falam, muitos ouvem, ninguém escuta
Para checar o nível de interação e engajamento dos participantes do evento no Twitter, separei uma amostra com pouco mais de mil tuítes com a hashtag #rdsummit, postados entre os dias 1º e 4 de novembro. As mensagens foram feitas por pouco mais de 460 perfis diferentes – detalhe que apenas 140 arrobas, 30% do total, foi responsável por 80% do total destas mensagens.
Quantidade, no entanto, não é algo representativo. A nuvem de palavras a seguir leva em conta as palavras mais mencionadas – excluindo-se alguns pronomes ou palavras comuns, além da própria hashtag do evento. Salta aos olhos o volume de mensagens cujo teor é “falando sobre”.
Em outro gráfico, para identificar o engajamento dos usuários, as postagens foram distribuídas em uma relação entre curtidas e retuítes. Apenas cinco postagens (em mil) provocaram reações dos usuários. Duas delas do economista Ricardo Amorim, keynote do primeiro dia (e 422 mil seguidores no Twitter): o mais popular celebrava a energia do público. Outro, com 16 retuítes e 50 curtidas, trouxe um resumo de sua fala. Outro ponto fora da curva é a postagem da consultora Martha Gabriel, keynote do segundo dia (56,7 mil seguidores), valorizando a informação de que o Brasil é o terceiro país em uso de ferramentas de automação.
Os outros dois pontos do gráfico em destaque trazem o anúncio de melhorias em uma ferramenta e outro link sobre o evento, publicado na revista PEGN. Esta análise esconde ainda um dado curioso: em pouco mais de mil mensagens capturadas, nenhuma delas provocou uma mensagem de resposta.
O problema está no Twitter ou no conteúdo?
Em uma conversa rápida sobre estes resultados, com o cuidado necessário para não generalizar, podemos perguntar: afinal, por que a mensagem que poderia ser a mais relevante, inspiradora e apaixonada sobre o que foi dito em um evento “desapareceu” do Twitter? A primeira hipótese aponta o dedo para a ferramenta: 460 usuários não totalizam 10% do público total presente no auditório do evento. As anotações produzidas durante as palestras ficam, em tese, restritas a cada participante – que não vê mais graça no Twitter ou, se ainda compartilha algo, poucos usuários dão bola.
“Mas é o oposto do #CMWorld, que você consegue saber o que acontece nas outras palestras só pelo Twitter”, lembra Cassio. O que sustenta outra hipótese, apoiada na velocidade e efervescência do Twitter em programas de televisão, eventos esportivos ou discussões cotidianas. Tem a ver com o conteúdo preparado e disseminado em encontros como este: pode ser que as mensagens sejam fortes o bastante para informar, mas não inspiram o suficiente para serem tuitadas. Ou, nas palavras de Jay Baer durante o Content Marketing World de 2015:
“A competição comoditiza a competência. Todos os dias, todos estão ficando melhores em blogs, podcasts, eventos. Todos estão no mesmo nível. Mas há uma coisa que ninguém pode tirar de você: o seu amor pelo conteúdo. Você está fazendo conteúdo ou está fazendo a diferença? Você realmente ama o seu conteúdo? Não confie nas pessoas da sua empresa que tentam criar a máquina de fazer conteúdo. É a paixão que distingue você.”
Ainda sobre curtidas x compartilhamentos
Quer ir além na discussão e conhecer uma forma clara de interpretar engajamento? A Tracto produziu, em parceria com o AllMetrics, uma reportagem especial sobre a relação entre curtidas e compartilhamentos em posts no Facebook. Por meio de uma análise em mais de 7 mil posts de marcas brasileiras, além de entrevistas com especialistas, o texto apresenta a matriz que cruza estes dois importantes indicadores.∞
Sobre o autor: André Rosa é jornalista, mestre, doutor, pesquisador e professor em cursos livres, de graduação e pós-graduação, sempre procurando promover o encontro entre a comunicação e a tecnologia. Seu blog tem mais de uma década anos de vida.