A Netglobe montava salas de videoconferência dentro de escritórios em 20 países. Era um modelo comum no mercado. Por exemplo, imagine que a filial aqui, no Brasil, precisasse fazer uma reunião com a matriz na Europa. Daí, então, metade dos executivos entravam numa sala de reunião no Brasil e conversava por videoconferência com a outra metade lá fora.
Veio a pandemia e, em grande parte, esse modelo foi substituído por reuniões com as pessoas dentro de suas próprias casas. “A pandemia mostrou que a videoconferência precisava ser feita de qualquer lugar”, explica Renato Batista, fundador e presidente do Conselho da Netglobe.
Você deve lembrar que, antes da pandemia, muita gente se atrapalhava na hora de entrar numa simples reunião via Zoom ou Google Meet. Então, para a Netglobe, o primeiro ponto era saber em que medida as pessoas conseguiriam operar ferramentas de videoconferência sem precisarem da ajuda, por exemplo, do help desk. “O segundo ponto é que as pessoas costumavam ter a cultura de fazer videoconferência dentro de espaços preparados, com acústica e câmeras especiais”, complementa Renato Batista.
Não demorou para que as respostas para esses dois pontos viessem à tona. Como se sabe, as pessoas aprenderam a usar as ferramentas de videoconferência. Isso substituiu em grande medida as salas de videoconferência que a Netglobe tinha instalado dentro de 10 mil escritórios. Mais do que isso: passou a ser normal fazer uma reunião com a sala de estar de fundo — às vezes, com o filho invadindo o call ou o cachorro latindo em segundo plano
O desafio da Netglobe era, então, sobreviver nesse novo mundo de home office. “Nós vimos todo uma construção de vinte anos sendo colocada em cheque.”
Plano de ação
A reação da Netglobe se baseou em content marketing. A premissa era a seguinte: se as pessoas tinham habilidade para participar de reuniões online, tinham habilidade também para participar de eventos virtuais. “Então, a gente encabeçou um projeto chamado Live 50CIOs, já que a gente já tinha o know-how de colocar pessoas para falar.”
O termo “50CIOs” se pronuncia assim: “50 CIOs”. Eram lives com gestores de TI do alto escalão, além de outros diretores de empresas. Foram 150 encontros com mais de 400 líderes das maiores empresas do Brasil. Cada um durava 1h30.
O objetivo era manter o relacionamento aquecido com gestores. Adicionalmente, a ideia era mostrar para o público o que as empresas estavam fazendo para viabilizar o home office. “Foi um grande palco virtual. Tivemos líderes de grandes empresas, como Carrefour e JBS, mostrando ao vivo como eles estavam lidando com a pandemia no dia a dia.”
Temas
O próprio nome do projeto (50CIOs) indica que o tema principal das lives era tecnologia. Por exemplo, habilitação de VPN, uso de firewalls e por aí vai. “Os temas que mais contribuíram de fato estavam relacionados à forma como as pessoas estavam usando a tecnologia naquele momento.”
Com o passar do tempo, até pelo grande volume de eventos, as pautas foram ficando mais abrangentes.
Em certo momento da pandemia, surgiu uma luz no fim do túnel, com vacinação acontecendo, empresas marcando data para voltar para o escritório e por aí vai. Esse novo momento da pandemia foi sendo incorporado às lives, que passaram a abordar como seria o trabalho híbrido — e sobre como as empresas iriam lidar com um mundo que misturava atividades on e offline.
Com mais temas na pauta, mais perfis profissionais foram sendo convidados. “Em certo momento, começamos a mixar heads de tecnologia com heads de outras áreas, como operações, marketing, financeiro e outras.”
No início, o público das lives era a comunidade de tecnologia como um todo — desde o estagiário até o diretor de TI. “No final, começamos a falar com mais de 50 mil pessoas não só de tecnologia, mas de recursos humanos, marketing e facilities.”
Lives em excesso
Depois de alguns meses de pandemia, houve uma percepção de overdose de lives. Havia apresentações online demais em YouTube, Instagram, Clubhouse e outras plataformas, que ensinavam de tudo. Isso sem contar as muitas lives de artistas. Foi aí que a direção da Netglobe entendeu que era hora de reaproveitar todo aquele relacionamento com o C-level — mas em outro formato. “Lançamos um livro com 50 capítulos, cada um sendo contado por um convidado”. O livro se chama Por Trás da TI.
Resultados
O grande resultado dessas iniciativas foi que a Netglobe criou uma unidade de negócios de eventos online, hoje em plena operação e gerando receita.
Os resultados têm a ver também com a estratégia da empresa. “Nós conseguimos ficar próximos dos stakeholders e dos funcionários. Assim, na retomada, estávamos posicionados com a nossa oferta dentro do nosso nicho”.
Aprendizados
A grande lição aprendida por Renato Batista tem nome: resiliência. “Fique muito próximo do seu cliente e de quem te quer bem. Faça o processo de pivotar. Não ache que o ciclo está morrendo, mas sim nascendo um novo ciclo. Precisa ter paciência e se preparar para que, quando chega o momento, você esteja pronto para ajudar as empresas.”
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A história que você leu neste post foi contada no podcast Quarto Ato, que apresenta histórias reais de marketing. Ouça abaixo ou no seu agregador preferido (Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Google Podcasts, Deezer ou outro).