Como jornalista, tenho convicção de que a responsabilidade com a informação relevante é uma constante que não muda com a ferramenta. Ou seja: a essência do jornalismo é a mesma com papel e tinta, gravações analógicas ou textos digitados em um blog. Algumas práticas usadas por quem se encantou com a facilidade de compartilhar seus pensamentos após dois ou três cliques poderiam entrar na rotina de qualquer profissional de redação.
1. Empacotar conteúdo para a web
Há muitas familiaridades com o texto de jornal — a pirâmide invertida é uma delas. Mas é preciso selecionar as palavras-chave de um título para que ela seja atraente tanto para um leitor conhecido quanto para o que vasculha os assuntos do momento no Google. Isso vale ainda para tags e categorias. Também não se deve ignorar a força dos links, que devem funcionar como convites irrecusáveis — e não como uma “indesejável saída para o concorrente”. Além do mais, blogs deixaram de ser apenas repositórios de fragmentos literários e histórias cotidianas: bons blogs são versáteis na escolha das linguagens, potencializada pela facilidade técnica em se produzir um mix de fotos, áudios e vídeos.
2. Prestar atenção no leitor
A internet passa como um rolo compressor diante da postura, ainda comum, de muitos jornalistas com o seu público: a indiferença. Aliás, alguns ainda acreditam realmente que “a informação pertence ao meu veículo”, ou que “leitores são aqueles que assinam o jornal, recebem, lêem e pronto”. Os blogs, ao contrário, funcionaram por muito tempo no ritmo dos “trackbacks”, espécie de aviso quando seu texto era citado por outro — normalmente enriquecendo o debate. Hoje, independente da plataforma, profissionais e leitores podem usar os mesmos canais de comunicação, permitindo um diálogo inimaginável há coisa de 15, 20 anos. Dá até para um jornalista ser alertado, receber informações complementares, ser contestado elegantemente… Não há a menor chance de se fazer um bom jornalismo sem isso.
3. Enfrentar o código-fonte
Não há dúvidas de que o conteúdo bem escrito é o mais importante. Agora, blogueiros tarimbados também se preocupam com aspectos técnicos de seu espaço, e em muitos casos são capazes de customizar seus templates, instalar plugins, adicionar widgets e hacks… Quem consegue passar mais tempo quebrando a cabeça para solucionar problemas do gênero tem menos chance de ficar refém da turma que presta suporte técnico.
4. Assumir uma postura empreendedora
Sim, tem blogueiro que recebe jabá. Também tem jornalista que faz propaganda. As duas situações são questionáveis quando interferem na credibilidade de quem escreve. De qualquer forma, quem assume o compromisso de ganhar dinheiro com o blog encara o desafio como o de uma pequena empresa de comunicação. Alguns preparam pesquisas de mercado para identificar seu público e apresentar um kit de mídia para anunciantes. Outros constróem sua presença digital com prestígio e influência, oferecendo consultoria, relacionando-se com marcas e abrindo novos mercados. Infelizmente, nem todo jornalista sai da faculdade preparado para dar um passo além da automomia de um free-lancer – ou uma longa caminhada a partir da perspectiva do bom e velho “peão” em uma redação ou assessoria.
Nada contra o trabalho dos jornalistas, evidentemente. Da mesma forma, blogueiros também tem muito a aprender, como lembra a outra matéria publicada hoje: quatro princípios JORNALÍSTICOS que os BLOGUEIROS deveriam adotar.∞

Sobre o autor: André Rosa é jornalista, mestre, doutor, pesquisador e professor em cursos livres, de graduação e pós-graduação, sempre procurando promover o encontro entre a comunicação e a tecnologia. Seu blog tem mais de uma década anos de vida.