O Facebook comprou nesta semana o aplicativo de mensagens por dispositivos móveis WhatsApp por US$ 19 bilhões. O pagamento foi fatiado assim:
- US$ 4 bilhões em dinheiro;
- US$ 12 bilhões em ações do Facebook;
- US$ 3 bilhões para serem divididos por fundadores e funcionários do WhatsApp pelos próximos quatro anos.
O investimento, que corresponde a 11% do valor de mercado do Facebook, supera de longe a maior aquisição já feita pelos seus grandes rivais. O Google causou espanto quando comprou a Motorola Mobility por US$ 12,5 bilhões. A Microsoft, numa jogada mais modesta, mas igualmente bilionária, pagou US$ 8,5 bi pelo Skype.
Para se ter uma ideia do tamanho da aposta, há pouco menos de dois anos o Facebook havia comprado o Instagram por apenas US$ 1 bilhão.
Para entender o que o levou a comprar o WhatsApp, usei um mix de artigos e matérias de diversos sites, além do acervo da própria Tracto. Vamos à análise.
Mobile
O crescimento do uso de dispositivos móveis está acelerado. O The Next Billion Internet Users, por exemplo, prevê que neste ano o número de pessoas conectadas à internet via mobile vá superar o número de internautas que usam desktops ou laptops. Apostas nesse sentido têm sido publicadas regularmente há dois anos ou mais, e agora começam a se confirmar.
O problema é o que Facebook é todo baseado em web. Por mais que lance aplicativos próprios, ele continua “sendo um site grande e gordo, muito diferente de um aplicativo móvel”. Foi essa a definição de Eric Jackson, da Ironfire Capital, logo após o IPO da rede social, em 2012.
Portanto, a aquisição do WhatsApp marca a entrada do Facebook no mundo mobile com tecnologia sob medida e popularidade em alta.
Siga os jovens
O Facebook não está inventando um novo caminho. Está apenas seguindo a direção de boa parte do público jovem, que começou a trocar a rede social por ambientes de maior privacidade. Recentemente, uma adolescente americana de 13 anos explicou ao Mashable por que ela e seus amigos estavam trocando redes sociais por aplicativos móveis, como WhatsApp e Snapchat. É simples: nesses programas, eles estão livres do controle dos pais, das mensagens embaraçosas das tias e da chatice dos conteúdos publicados pelos adultos.
Nos Estados Unidos, os investimentos anuais em publicidade focada em jovens são de US$ 200 bilhões. Uma plataforma social não pode ignorar os passos dessa turma se quiser abocanhar uma parte dessa montanha de dinheiro.
Mineração de dados
Além da questão mercadológica, a mineração de dados é possivelmente outro fator preponderante para a aquisição.
Todo usuário fornece um grande volume de informações a seu respeito, especialmente sobre hábitos de consumo, preferências e relações interpessoais. O Facebook sabe como ninguém usá-las para fins comerciais. Basta observar que, depois que você começa a falar com alguma frequência sobre um determinado assunto, aparecem mais e mais anúncios de produtos ou serviços relacionados àquele tema em sua página pessoal.
Ao adquirir uma plataforma móvel, o banco de dados se amplia. Com o WhatsApp dentro de casa, o Facebook verá não apenas o volume de informações de seus usuários crescer, mas potencializará o uso de dados de geolocalização. Embora num contexto completamente diferente, foi mais ou menos pela mesma razão que no final do ano passado a Apple comprou o Topsy por US$ 200 milhões.
Popularidade
A escolha do WhatsApp passa, ainda, pelo nível alucinante de atividade. Num dia comum, 70% dos usuários usam o aplicativo. Em seu anúncio, Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, antecipou que o WhatsApp continuará a operar de forma independente. E justificou a aquisição:
“O WhatsApp é um serviço de mensagens móveis simples, rápido e confiável, que é usado por mais de 450 milhões de pessoas em todas as principais plataformas de mobile”.
O número citado por Zuckerberg impressiona se comparado aos quatro primeiros anos de vida de outras ferramentas de comunicação interpessoal mundialmente populares, como Gmail, Twitter e Skype.
O WhatsApp mudou a forma como as pessoas se comunicam por mensagens de texto. Tornou-se, se não um substituto, uma alternativa popular dos serviços de SMS. O Business Insider fez uma comparação oportuna:
“O que o WhatsApp fez com mensagens de texto é similar ao que o Skype fez com chamadas de voz e de vídeo”.
O gráfico da Enders Analysis apresentado pelo analista Benedict Evans (@BenedictEvans), da Andreesen Horowitz, mostra o crescimento do volume de mensagens desde junho de 2011. Atualmente, são cerca de 20 bilhões de mensagens trocadas por dia.
Fontes
Para fazer a curadoria de conteúdo deste artigo, usei as fontes estrangeiras e brasileiras citadas abaixo.∞
- http://newsroom.fb.com/News/805/Facebook-to-Acquire-WhatsApp
- http://www.businessinsider.com/whatsapp-growth-2014-2
- http://www.telegraph.co.uk/finance/newsbysector/mediatechnologyandtelecoms/digital-media/10650340/Facebook-buys-WhatsApp-Mark-Zuckerberg-explains-why.html
- http://www.theguardian.com/technology/2014/feb/20/mark-zuckerberg-statement-facebook-buying-whatsapp
- http://www.businessinsider.com/sequoia-why-facebook-bought-whatsapp-2014-2
- http://www.firstpost.com/world/young-users-the-real-reason-facebook-bought-whatsapp-for-19-bn-1399867.html
- http://www.techradar.com/news/internet/web/what-s-up-with-facebook-buying-whatsapp-it-s-about-the-developing-world-1226429
- http://www.npr.org/blogs/thetwo-way/2014/02/19/279763675/facebook-will-buy-whatsapp-message-service-for-19-billion
- http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-2563379/Facebook-buys-WhatsApp-16bn-deal-attract-teens-boost-messaging-service.html
- http://news.yahoo.com/facebook-buying-messaging-app-whatsapp-19b-235918042–finance.html
- http://tecnoblog.net/151635/potencial-whatsapp-mineracao-de-dados/
- http://www.theverge.com/2014/2/19/5427332/facebook-is-buying-whatsapp
- http://techcrunch.com/2014/02/19/facebook-whatsapp/
- http://www.bloomberg.com/news/2014-02-19/facebook-to-buy-mobile-messaging-app-whatsapp-for-16-billion.html

Sobre o autor: Cassio Politi é fundador da Tracto. Implantou programas de content marketing em empresas do Brasil e em multionacionais. Autor do primeiro livro em língua portuguesa sobre content marketing, publicado em 2013, é o único sul-americano a compor o seleto júri do Content Marketing Awards. Desde 2016, é palestrante em eventos no Brasil e no Exterior, normalmente apresentando cases bem-sucedidos de seus clientes.